Cruzamentos

O Gir nos cruzamentos de corte

Em termos de corte, o Gir foi a raça estimuladora do melhoramento das carcaças nas décadas de 1940-1950. Alguns frigoríficos, como o de Barretos (Frigorífico Anglo) pagava até um valor extra pelas carcaças de novilhos Gir, ou agirados. Na modernidade, muitos pecuaristas praticantes de cruzamentos industriais já procuram infundir o sangue Gir na vacada F-2 ou F-3, para garantir mansidão, aptidão maternal, rusticidade e bom rendimento de carne de primeira. Em vários testes, o Gir mostrou ser excelente em rendimento de carne-de-primeira e apresentando uma ossatura fina. O livro do professor Miguel Cione Pardi, “A Epopé¡a do Zebu” de 1944 a 1994, mostra urna nova luz sobre esse período, analisando 6,602 milhões de novilhos abatidos, em um total de 7,686 milhões! O peso médio da carcaça pesava 245,4 kg em 1944 e passou para 268,9 em 1994. Um pequeno aumento de apenas 23,5kg em 50 anos, mesmo depois que o Gir já havia saído do cenário (fato ocorrido por volta de meados da década de 1970). Estes números mostram que o Gir não era o vilão do baixo desfrute e o baixo peso das carcaças! Mostra também que o Nelore ocupou as terras de capim Colonião enquanto que o Gir ficou nas terras de capim Jaraguá – levando a um menor desempenho. Obviamente, o Gir vivia em terras piores e, como conseqüência, acabou sendo punido pelo mercado.

 

Esta constatação permite aos criadores de Gir reorientar a seleção, buscando também as características de carcaça e de rendimento de carne-de-primeira. Afinal, o futuro do Brasil para produção de carne é garantido, pois as nações ricas precisam comprar carne, tanto quanto precisam vender leite. Ou seja, as nações pobres poderão comprar leite do Brasil mas as ricas somente comprarão carne, cada vez mais. O Gir tem um grande papel nas duas direções, ora produzindo carne, ora leite, ora os dois produtos ao mesmo tempo.

O Gir nos cruzamentos leiteiros

Assim como o Nelore é a raça preferida nos cruzamentos de corte, o Gir é a preferida nos cruzamentos leiteiros. Enquanto o sangue de Nelore predomina em 13% das propriedades brasileiras, o sangue do Gir exerce influência em 82,4%. Ou seja, o Gir conta com muito mais usuários, embora com muito menos animais. A opção pelo Gir foi lenta, começando na década de 1920, nos cafezais. A vaca Gir sempre foi boa leiteira, tendo estabelecido um núcleo de seleção na região de Franca (SP) que ficou famoso pelo esmero na caracterização racial e na produção leiteira. Depois, ocupou os imensos cafezais e, finalmente, o país inteiro, por ocasião da Segunda Guerra Mundial. Os cruzamentos tiveram início, de forma sistemática, no final da década de 1950 e, principalmente, no correr da década de 1960. O Controle Leiteiro Oficial da raça Gir começou em 1964, impulsionando os poucos criadores de então. Além da família do Ten.

Jacintho, em Franca (SP), pioneiro da seleção leiteira privada, coube a Evaristo de Paula, de Curvelo (MG) o papel de consolidar a seletividade leiteira do Gir. Evaristo levou seu gado de norte a sul do país, exibindo mansidão e muito leite, aliada a uma evidente expressão racial. Em seguida, coube a Rubens Resende Peres, de São Pedro dos Ferros (MG) e a Gabriel Donato de Andrade, de Arcos (MG) – que adquiriu as matrizes leiteiras de Franca (SP) – acelerar os trabalhos seletivos, segregando fêmeas de dezenas de plantéis e buscando os melhores touros leiteiros. A partir desses três criadores, a promoção do Gir para leite estava traçada. Em seqüência, dezenas de outros criadores aperfeiçoaram a exploração leiteira, ao mesmo tempo que milhares começavam a cruzar o Gir com o Holandês.


Devido ás sucessivas crises nos negócios do café, os pequenos e médios proprietários de terras, viram-se obrigados a buscar na produção do leite a viabilização de suas propriedades. Adquiriam um touro Gir o cruzavam com vacas mestiças ou mesmo européias. Já os antigos produtores de leite cruzavam fêmeas Gir de baixo valor com touros europeus. Nascia, assim, o Girolando que – em menos de 30 anos – iria se tornar o gado mais utilizado, de norte a sul do país, para produção de leite. Pode-se afirmar que, na virada do milênio, 95% do gado produtor de leite, no Brasil, é Girolando!


Por que o Girolando? Porque, além do leite produzido por um gado manso, ainda os machos são rentáveis no abate, garantindo uma renda extra para a fazenda. Aritmeticamente, o Girolando garante a subsistência das pequenas e médias fazendas, com carne e leite. Por decreto governamental, a maioria das pequenas e médias propriedades estará proibida de comercializar o leite produzido, e as restantes preferirão utilizar raças mais rentáveis, mesmo enfrentando maiores custos. A Lei determina que o leite somente será recolhido em propriedades com mais de 100-200 litros/dia, resfriados na fazenda. Restará ás pequenas e médias propriedades criar um gado manso, que produza, também e apenas, o leite do dia-a-dia. Esse gado é o Gir. Nas propriedades leiteiras que permanecerem, as fêmeas européias serão acasaladas com Gir, para garantir que os machos possam ter bom peso no abate – e também para formar gerações excelentes de Girolandas. Esse parece ser o melhor caminho para o Gir, no leite.


Em 1996 foi aprovado o padrão racial do Girolando. Os dados do Controle Leiteiro de 1990 mostram que a diferença na produtividade leiteira diária entre o Holandês brasileiro e o Girolando era de apenas 35,2% e a diferença na produção média da lactação era de 34,84%. Quando a média nacional por vaca era de apenas 0,79 kg/dia a média do Girolando já era de 10,85 kg/dia.